Em 2019, ocorreu nos Estados Unidos o 24º Jamboree Mundial Escoteiro. Para quem não sabe Jamborees são acampamentos nacionais e internacionais, que se realizam periodicamente a cada quatro anos, o maior dos quais é o Jamboree Mundial.
O Jamboree surgiu na mente do Fundador do Escotismo, Baden-Powell, que após a 1ª Guerra Mundial, onde muitos Grupos Escoteiros de vários países acabaram, chegou-se a temer pelo futuro do Movimento. Baden-Powell imaginou um encontro de amizade e técnicas escoteiras mundial.
No ano passado, o Acampamento Mundial foi desenvolvido em parceria pelo Canadá, Estados Unidos e México. E o nosso grupo fez parte do contingente brasileiro no evento com um chefe, o Chefe Evaldo Ribeiro e alguns jovens sêniores e guias, são eles: Cecília Basilio Beltrame, Felipe Danilow Mendes, Gabriel Krambeck, Isabel Regina Maia de Castro, Marina Kirschnik Ribeiro, Luan Nain de Paula Oliveira Inácio e Tiago Augusto Kirsch Andreis.
Mas passado um ano, gostaríamos de saber mais sobre esta aventura, e para isso perguntamos aos participantes como foi tudo nesta experiência.
1 – Como foi a sua preparação para ir ao Jamboree?
Ch. Evaldo – Procurei ler tudo o que podia a respeito do evento, inclusive dos anteriores. Perguntei a quem já havia ido num Jamboree para me passar as dicas fundamentais para um chefe de primeira viagem. Recebi muitas informações valiosas, desde o que não levar até produtos médicos muito importantes que eu nem fazia ideia que seriam úteis. Fui atrás de toda a documentação necessária com bastante antecedência. Uma vez definido o roteiro da viagem (teve uma escala de turismo com o grupo com o qual viajamos) fiz uma lista do que precisava, arranjei o que eu não tinha e tentei enfiar tudo numa mochila grande e em uma mochila de mão. Aí fiquei só esperando a hora do embarque. Ainda aproveitei para assistir séries da netflix nas línguas do Jamboree para desenferrujar. Foi uma bela desculpa!! (risos)
Marina – Foi meticulosa até demais (risos). Eu estava tão preocupada em levar a quantidade suficiente de roupas, sapatos e agasalhos para o acampamento que a minha mochila ficou MUITO pesada, e olha que eu tinha uma experiência de sete anos montando mochilas para acampamento! Aí chegou o fim do acampamento e eu tinha usado metade do que levei (risos). Mas essa organização foi superimportante, porque me garantiu para qualquer coisa ou imprevisto que poderia vir a acontecer. Comecei a ler e assistir muita coisa em inglês também, para me acostumar com o ambiente, e ajudou muito. No fim eu estava tão nervosa, e passou tão rápido que assim que pisquei, já estava embarcando para os E.U.A.
Gabriel – O que eu mais me lembro é de ter adiantado as matérias do colégio, para pode ir viajar com tranquilidade.
Cecília – Me preparei para o evento primeiramente indo aos encontros com o pessoal da nossa tropa (que eram de outros grupos), tentei achar pessoas no exterior que iriam para o evento para trocar uma ideia. Estudei mais os idiomas do evento, principalmente o inglês, e estudei sobre as mais variadas culturas e mais da nossa também para poder ter um começo de conversa com os gringos (risos).
Felipe – Foi com muita ansiedade (risos) mas eu basicamente segui no Instagram e Facebook páginas que davam dicas e conselhos do que levar ou do que fazer lá e isso me ajudou bastante na preparação. Na questão de documentação eu já tinha quase tudo pronto, só estava faltando poucos detalhes que fiz o quanto antes para não ter problemas. Assim que saiu o cronograma de atividades eu já separei tudo e escrevi o que precisava e o que não tinha em casa para eu ir atrás disso. No final foi só montar a mala e aproveitar.
Isabel – Como essa foi a minha primeira viagem internacional eu precisei fazer o passaporte e ir para São Paulo para conseguir o visto. Também fiz um cartão de débito internacional. Eu fiz uma lista das coisas que eu precisava levar e depois fui comprando o que não tinha. Eu também pesquisei sobre os parques da Disney e Universal para saber quais lugares que eu mais queria ir.
Esquerda: Marina após seus primeiros tiros com arma de verdade. Direita: os jovens da tropa que foram para o desafio final da seção de tiro com pistola.Tiago – A minha preparação foi meio ruim, pois, estava mudando de cidade e cheio de coisas da faculdade. Quando defini que iria ir, organizei passaporte e todos os documentos que precisava, mas depois acabei não fazendo mais nada. Tive que comprar uma mochila que desse para levar todas as coisas para não precisar levar mais de uma e dar problema (risos). Acabei deixando o tempo passar e não me informei de locais nem de atividades, então eu estava até meio perdido na programação. O inglês eu também não fui atrás de melhorar, apenas mudei todos meus aparelhos digitais e filmes para padrão em inglês. Chegando um mês antes de viajar caiu a ficha e fui arrumar mochila ver o que precisava e essas coisas, mas deu tudo certo e não tive problemas.
Se eu fosse falar para alguém, diria “um mês não é tempo suficiente para organizar tudo e nem se programar”. Logo foi bem corrido, mas acho que como sou ansioso foi melhor assim, pois, acabei “esquecendo” do evento e não fiquei mentalmente preso a isso. A única coisa que “me organizei” e fiz foi parar de ir em festas, sair, comprar coisas fúteis e coisas deste tipo para juntar dinheiro para passear lá.
Luan – Eu e minha família começamos a preparar tudo um mês antes, compramos tudo que precisamos, para falar a verdade tive que comprar roupas novas, porque as minhas não estavam no padrão que eles pediram. Depois foi só montar a mochila e ficar esperando dar a hora de ir.
2 – Fizeram muitas amizades no Jamboree? Que dificuldades linguísticas tiveram?
Tiago – Sim eu fiz muitas amizades, mas por eu estar meio perdido acabei não organizando muito bem o meu aplicativo do jamboree e não consegui salvar todas. Ainda assim tem vários contatos que fiz no jamboree como pessoas da Europa, do Japão e dos Estados Unidos. As vezes até converso com elas, pouco, mas converso. O Instagram está aí para facilitar isso e me ajudou muito.
Sobre comunicação eu não tenho muito a reclamar, não me organizei para melhorar meu inglês, mas ainda assim com inglês bem básico fiz tudo que eu queria fazer. As vezes nós ficamos muito presos ao pensar se estamos falando certo e bem, mas acabamos esquecendo que muitas vezes você só precisa do básico e gestos para se fazer entender. Sobre as piores comunicações eu acho que eu tive com os japoneses, pois, eles falavam em inglês com muito sotaque e acabou sendo difícil de entender, mas nada impossível. Depois de alguns dias você já acostumava com todas as frases e já estava quase falando inglês “fluente”.
Cecília – Simmmmm, converso com eles até hoje. Trocamos redes sociais e tudo, foi muito divertido. Geralmente as amizades eram formadas nas filas, principalmente na fila do banheiro, mas às vezes o inglês travava e a gente fazia mimica (risos).
Gabriel – Não tive dificuldade em me comunicar, já tinha tido outras oportunidades para treinar o inglês então foi tranquilo.
Das amizades que eu mais me lembro no Jamboree foi com um sênior mexicano e uma guia croata. Destaque eu diria.
Marina – Várias! É muito incrível conhecer pessoas de outros lugares do mundo. As trocas de cultura e experiências são incríveis, e dão uma sensação muito boa! E além de amizades internacionais, deu para conhecer bem mais o pessoal que é daqui de Curitiba mesmo e ter contato com pessoas que não tinha antes.
Eu não tive muita dificuldade na área linguística, era mais com palavras e expressões específicas sobre escotismo, mas como pouca gente sabia também, era um jogo de reconhecer as palavras com gestos (risos).
Felipe – Conheci muitas pessoas novas de outros grupos do Brasil, fiz amizades que converso até hoje. De outros países conversei bastante lá no Jamboree.
Na questão de dificuldade linguística eu não tive muita não, mas se eu precisasse de alguma coisa eu perguntava pra alguém ou pesquisava e funcionava. Tudo certo.
Ch. Evaldo – Não muitas. Os jovens é claro. Alguns (uma patrulha do GESD) porque viajamos juntos e convivemos dez dias no mesmo acampamento. Outros um pouco menos (jovens do GESJT, nossos outros parceiros de viagem de ida e volta) e as duas patrulhas restantes da nossa tropa (jovens e chefes do GECPA, colegas de acampamento).
Durante o evento a minha preocupação foi mais acompanhar os nossos jovens nas atividades mais hardcore, então eu conversava de vez em quando com os adultos que estavam nas filas. Fiz amizade com um chefe americano que estava na equipe de serviço (médico do subcampo C) e com vários chefes da organização do subcampo B (o nosso). Como era a regra do encontro, adultos não deviam se misturar com os jovens (política americana por causa dos problemas de abuso que a BSA estava enfrentando na época).
Para mim não houve barreiras de língua, foi bem legal de conversar com os participantes.
Luan – Para falar a verdade eu deveria ter feito mais amigos, mas as amizades que eu fiz foram as melhores, não tive tantos problemas com a língua quanto eu pensava.
Isabel – Sim, principalmente com as pessoas que fizeram parte do mesmo grupo de turismo. Algumas pessoas de outros países tinham o sotaque bem forte, mas mesmo assim deu pra conversar bem. Eu também consegui falar em alemão com um escoteiro da Alemanha.
3 – Conte alguma história bacana sobre a atividade, um momento de superação ou alguma dificuldade, um momento de alegria ou de conhecimento de novas culturas.
Cecília – Um momento “engraçado” foi quando começou a chover na base da tirolesa e as atividades tiveram que ser interrompidas. Ficamos quase uma hora dentro de gazebos e “dale chuva”, mas tinha caixinhas de som do próprio Jamboree e colocaram Bohemian Rhapsody (Música da Banda Queen) e todos nós começamos a cantar. Ainda teve um momento onde conhecemos várias culturas, foi no Dia Cultural, onde ficamos rodando entre as tropas de diversos países pra conhecer um pouco mais, tenho as lembranças que o Japão fez para mim.
Gabriel – Teve uma atividade que era pra fazer em grupo, cinco pessoas com línguas diferentes e a gente tinha que desligar uma “bomba”. Lembro que eu fiz com um italiano, um sueco, uma estadunidense, uma indiana e um japonês. Foi bem “daora”.
Ch. Evaldo – Em um dos dias não houve atividades aventureiras por ser um domingo dedicado à espiritualidade. A tropa ficou livre e eu saí para acompanhar uma hora de oração da fé Sikh (Índia), uma palestra de zoroastrismo com um mestre e escotista super bacana. Passei pelos stands das religiões tradicionais, acompanhei um trecho de uma missa americana, visitei o stand dos Sikh para aprender algo da sua história (e saí de lá com um turbante na cabeça, muito top!). Almocei ali no Centro Mundial e continuei a “zanzar” pelos stands das outras religiões até o final da tarde. Foi um dia bem legal e proveitoso, um descanso da intensidade das caminhadas e aventuras dos dias anteriores.
Luan – Eu consegui superar meu medo de altura, meu maior problema é minha timidez, mas consegui conversar com as pessoas de boas.
Isabel – As atividades que eu mais gostei foram aquáticas. Eu estava com um pouco de medo antes de ir no rafting, mas foi muito incrível. Outra coisa que eu achei bem legal foi o estande do Space Camp e o da NASA (principalmente o da NASA). Também teve um dia que foi para mostrar a nossa cultura e conhecer um pouco da dos outros países.
Marina – Em várias atividades relacionadas a altura eu fiquei super insegura e com medo, porque tenho um medo gigante de altura, mas o apoio do pessoal da patrulha e dos amigos foi incrível, e me deram a coragem que precisava para pular do “Salto da Fé” com a Bel (era tipo uma tirolesa, mas a gente pulava e caia, e não ia em uma descida continua).
Felipe – Todas essas experiências eu consegui viver intensamente no Jamboree, desde aprender sobre a cultura de outros países num dia que foi inteiro programado para isso, até conseguir escalar uma parede que para mim estava muito difícil. Os momentos de alegria não tem como escolher só um, todos foram incríveis e com pessoas incríveis, histórias que vão ficar pra sempre na memória.
4 – Você acha que é uma experiência única na vida?
Cecília – COM CERTEZA! Em 12 dias de acampamento aprendi coisas que não aprendi em 14 anos na escola. A troca de culturas, as brincadeiras, comidas e amizades são coisas únicas que aprendi lá e que com certeza levarei como um grande aprendizado pra minha vida.
Ch. Evaldo – Para o jovem sim, pois, ele só consegue participar como jovem uma vez na vida mesmo. Mas para o adulto é bem gratificante e se o cara tiver sorte pode conseguir ir outras vezes acompanhando as próximas gerações do Grupo que resolverem se aventurar.
Luan – Uma das melhores experiências que eu tive na vida, e eu acho que não vou ter nada parecido com o que eu tive no Jamboree, eu digo quem tem a oportunidade de ir, vá. É muito bom ter esse contato com as pessoas e ver as diferentes culturas.
Isabel – Com certeza é uma experiência única, o Jamboree deu a oportunidade de conhecer e vivenciar um pouquinho da cultura de outros países e de fazer algumas atividades bem legais.
Marina – Com toda a certeza do mundo. É de longe a melhor experiência da minha vida, que nunca vou esquecer! Infelizmente é caro, mas indico a todos os escoteiros, porque são aprendizados infinitos!
Gabriel – Pra mim toda viagem é uma experiência única. Não pode ser repetida. Então, sim o Jamboree foi uma experiência única que não pode ser repetida com todas as outras viagens.
Felipe – Com certeza, eu saí de lá com um conhecimento de mundo, de culturas diferentes, muito maior do que eu tinha antes de ir. O acampamento foi tão incrível que aconteceu no tempo e no jeito certo para se tornar inesquecível. Pretendo poder, um dia, ir de novo para algum Jamboree Internacional mas desta vez como staff.
Apenas para o Ch. Evaldo:
5 – O que achou da organização do evento?
A organização estava praticamente impecável. Havia lugares para todos acamparem, bem organizados e com espaço suficiente. Havia comida sem problemas. O número de atividades à disposição era impressionante! Não teria como participar de todas nos dez dias de acampamento, mesmo que não tivesse fila. Ou seja, dava para escolher o que se queria fazer, programar um dia mais ativo, um outro dia mais calmo e contemplativo, o que fosse tua escolha haveria atividades ali para fazer. Claro que as mais disputadas tinham fila de 40 minutos a 1 hora (umas até mais), porém, valiam a pena. Toda a parte de atendimento médico foi excelente, fui lá para ver os detalhes e fiquei impressionado com a organização. E para carregar o celular eu ia à tenda dos gerentes do nosso subcampo, e ficava papeando por ali; fiz alguns camaradas lá nessa tenda, e depois de dois dias iam me falando o que acontecia de diferente no Jamboree, seja no nosso subcampo como nos outros. Foi deles que soube que uns jovens loucos estavam tentando atrair filhotes de urso da mata para o acampamento deixando trilha de comida no mato, dá para crer? E um filhote acabou vindo. Tiveram que dar uma baita bronca e explicar que se o filhote vier, logo aparece a mãe e aí é que está o problema…
6 – Como chefe responsável, teve alguma dificuldade?
Praticamente nenhuma dificuldade. Primeiro que os jovens da nossa patrulha são super top, comportaram-se muito bem em quase todo o evento, eram usados de exemplo pelos chefes que davam bronca nas outras patrulhas da nossa tropa. Segundo, o chefe de tropa (Chefe CD, do Santos Dumont) é um cara bem durão mas que já tinha ido em três Jamborees antes, já sabia o que tinha que fazer e deixou os outros três chefes bem orientados. Todas as dicas dele foram fundamentais para a gente poder aproveitar melhor o encontro.
Então em resumo: com jovens ótimos e um chefe de tropa experiente, posso dizer que da parte de chefia deu menos trabalho que os acampamentos que a gente faz com a tropa Sênior!
Essa foi nossa super entrevista da semana! Espero que tenham gostado de saber mais como foi este evento mundial que teve a participação do G.E. São Gaspar Bertoni.
Sempre Alerta!
Por Junior Castro Bieger – Diretor de Comunicação G.E. São Gaspar Bertoni – 124/PR